ESPIRITUALIDADE

¿A que «Espírito» se refere a Espiritualidade?

por Dr. Ramesh Bijlani

A espiritualidade é um despertar para a realidade interior e a presença da alma em nós, a qual é diferente de nossa mente, vida e corpo.

– Mangesh Nadkarni («India’s Spiritual Destiny», p. 56)

A palavra «espiritualidade» foi derivada da palavra «espírito». O espírito é invisível, ou pelo menos não evidente, e ainda é algo vital, algo que poderíamos chamar de essência. Por exemplo, quando dizemos que o espírito do pintor está na sua pintura, o que queremos dizer é que, mesmo que o evidente seja apenas uma paisagem ou um retrato, uma parte do pintor está também presente na pintura. O que está presente na pintura não é óbvio, e ainda é fundamental. É isso que chamamos de espírito. Na espiritualidade, o Espírito se refere à presença invisível do Divino em toda Sua criação. Espiritualidade é a visão do mundo que reconhece o Espírito onipresente do Divino em tudo animado e inanimado. Esta visão do mundo foi alcançada por duas abordagens diferentes. Uma delas é a abordagem do filósofo, que se fundamenta na análise racional. A outra abordagem é a do rishi ou do místico, quem se embarca em uma busca pessoal na procura das verdades mais profundas da existência. Os rishis e os místicos chegaram à visão espiritual do mundo sobre a base de suas experiências culminantes. Embora suas experiências culminantes estejam fora do reino das experiências sensoriais, elas foram descritas figurativamente como «ver» a Realidade Absoluta ou «ouvir» a Palavra do Divino. A palavra rishi significa literalmente «vidente», ou seja, aquele que viu; e as descrições dos rishis de suas revelações foram chamadas de shrutis, ou seja, o que foi ouvido.

(O Ser Psíquico),
Ouve a Palavra para a qual nossos corações estavam surdos,
Vê através da chama em que nossos pensamentos ficaram cegos;
Bebe dos seios nus da gloriosa Verdade,
Aprende os segredos da eternidade.
– SRI AUROBINDO (‘Savitri’, Livro 10, Canto 3, p. 627, edição SABCL)

Tanto os filósofos espirituais quanto os rishis chegaram a visões do mundo semelhantes. No entanto, o método do filósofo é mais simples, mas menos confiável; o método do rishi é muito mais difícil, mas mais confiável. Isso é assim porque a experiência é muito mais confiável do que a análise racional. O método do rishi é difícil, porque requer extremos de concentração e autopurificação. Ambas – as revelações experimentadas pelos rishis e místicos, e a análise racional – estão na base da filosofia espiritual de uma religião. Não surpreende que as filosofias espirituais subjacentes às diferentes religiões sejam notavelmente semelhantes.

De acordo com a filosofia espiritual da tradição hindu, chamada Vedanta, o Divino, ou Brahman, não criou a criação; o Divino tornou-se a criação. No processo de criação, o Divino não manifesto tornou-se manifesto. Assim, a criação não é outra coisa mais do que o Divino em outra forma. Portanto, a presença onipresente do Divino na criação se explica por si mesma. Por exemplo, se uma criança dobra um pedaço de papel para fazer um barco, não precisamos de nenhuma prova para afirmar que o barco contém papel. Como o barco não é outra coisa do que o papel em outra forma, entende-se que o barco tem papel; podemos até dizer que o barco é o papel. Da mesma forma, a criação é o Divino em outra forma. Portanto, não precisamos de nenhuma prova da presença do Divino na criação. Podemos até dizer que tudo é Brahman (sarvam hyetad brahma, Mandukya Upanishad, verso 2). No entanto, como não é fácil perceber o Divino na criação, mesmo sendo sua única Realidade permanente, ele é chamado de Espírito.

As implicações práticas da visão espiritual do mundo são, em primeiro lugar, que somos todos um, porque nossa essência ou o Espírito é o mesmo; e em segundo lugar, que todos os acontecimentos têm a mão invisível do Divino por trás deles. O primeiro gera amor e o segundo alivia o estresse. Viver uma vida baseada na visão espiritual do mundo torna a cosmovisão mais real para nós. Quanto mais real ela se torna para nós, mais fácil se torna viver uma vida baseada nela. Esse processo cíclico é chamado de crescimento espiritual. O crescimento espiritual é o propósito da vida humana. Portanto, a espiritualidade não é um entretenimento intelectual. É uma visão do mundo que dá um propósito à vida, e torna a vida significativa e pacífica.

(Ensaios relacionados: Brahman, Mantra, Crescimento espiritual, Estresse, Gestão do estresse, Filosofia espiritual, Upanishads, Vedanta)

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