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MANTRA

Ouvido pelo Coração, Traduzido na Mente

por Ramesh Bijlani

A palavra mantra, originalmente uma palavra sânscrita, tornou-se agora uma palavra universal e entrou nos dicionários de muitas línguas, incluído o português. Combina duas raízes: man (mente) e tra (veículo ou instrumento). Um veículo é usado para viajar e é provável que a palavra «travel» («viajar» em inglês) também tenha origem na raiz sânscrita tra. Assim, o mantra é uma expressão que resulta da viagem da mente para outra dimensão, uma dimensão da consciência além daquela da mente comum. O mantra também tem o poder de transportar qualquer pessoa que o recite para um estado mais elevado de consciência.

Um mantra não se compõe como um poema. É algo que é ouvido por um rishi ou um místico durante uma experiência espiritual de pico. O Divino fala com ele, e o místico atua como escriba. As palavras simplesmente fluem de uma Fonte Superior, e o rishi se abre para o que ouve, mas não faz nenhum esforço mental. Esse é o segredo do poder inerente ao mantra. O grau em que uma pessoa pode aproveitar esse poder cantando o mantra dependeria do grau de pureza, sinceridade e silêncio interior. O silêncio interior resulta da ausência de ruídos obstrutivos criados por pensamentos dispersos, dúvidas e sentimentos em bruto, não refinados.

Esta é uma descrição poética de como os mantras são criados:

Uma palavra é dita ou uma Luz é mostrada,

Um momento vê, as Eras trabalham para se expressar.

… … …

Esta Luz não vem da luta ou do pensamento;

No silêncio da mente o Transcendente age

E o coração silencioso ouve a Palavra não pronunciada.

SRI AUROBINDO (‘Savitri’, Livro 3, Canto 2, p. 315)

Embora os mantras sejam um reflexo fiel da experiência do rishi, eles não podem substituir a experiência. Nenhuma palavra pode fazer justiça a uma experiência. Neste caso, é muito mais difícil porque a experiência é a do Infinito, enquanto todas as palavras são finitas. Os Upanishads são descrições das experiências dos rishis, conforme ouvidas por eles durante suas experiências espirituais de pico. Estas descrições dão vislumbres da forma como o universo foi criado e da presença omnipresente do Divino na Sua criação.

Aqui, algumas linhas do Sri Aurobindo Upanishad:

Sa bhuvanaateeto bhuvanaani dhaarayati

Bhoovanabhooto bhoovanaani pravishati

– Sriaravindopanishad, do versículo 4

(Ele está além dos mundos, mas ainda mantém os mundos.

Ele se torna os mundos e entra neles.)

Em apenas duas linhas aqui temos a essência da cosmovisão espiritual.

Embora os mantras estejam associados a escrituras originalmente escritas em sânscrito, um mantra não precisa estar em sânscrito; o Divino conhece todas as línguas. Abaixo, algumas declarações mântricas relacionadas à criação do universo do poema “Savitri” de Sri Aurobindo na língua inglesa:

Seu vasto projeto aceita um começo modesto……

A princípio, uma base estranha e anômala foi estabelecida,

Um vazio, uma cifra de alguma Totalidade secreta,

Onde o zero continha o infinito em sua soma

E o Todo e o Nada eram um único termo,

Um eterno negativo, uma matriz do Nada:

Nas suas formas a Criança sempre nasce

Que vive para sempre na vastidão de Deus. ……

Um milagre do Absoluto tinha nascido;

O infinito vestiu uma alma finita,

Todo o oceano vivia dentro de uma gota errante,

Um corpo criado pelo tempo abrigava o Ilimitado.

(“Savitri”, Livro 2, Canto 1, pp. 100-101)

De acordo com a sua Fonte, que não é a mente, os mantras estão densamente preenchidos com a Luz, o Poder e a Beleza do Divino.

Traduzido por NB Traduções.

(Ensaios Relacionados: Upanishads)